segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Opinião: O NÓ CEGO

* Jornal Público de 24.01.2011 * Opinião
O nó cego
Por António Barreto
(Sociólogo)

O Presidente eleito não vai ter surpresas. Já sabe que país tem e o estado em que se encontra. O Governo e os partidos também não. Sabem o que têm e o que fizeram. E sobretudo o que adiaram. Surpresas, a breve prazo, talvez as tenham os cidadãos.

O nó cego na vida política portuguesa e o impasse na actividade económica e na situação financeira exigem acção. Depois de cinco anos de adiamento e de agravamento, após quase dois anos de suspensão e azedume, já não é mais possível fazer de conta, protestar de modo impotente ou olhar para o lado. O que se segue a esta eleição de calendário não é previsível. Grande remodelação? Coligação tardia? Demissão do Governo? Dissolução do Parlamento? Iniciativa presidencial? Novas eleições? Novos pacotes de austeridade? Chegada do FMI e do Fundo Europeu? Nova intervenção política da Alemanha e da União Europeia? Tudo pode acontecer. Os dirigentes políticos nacionais já quase não são mestres da sua decisão. As grandes instituições nacionais parecem cercadas e incapazes. Tal como estiveram desde as últimas eleições legislativas, há quase ano e meio, à espera de umas presidenciais ineficazes.

Ignorância e covardia

A falta de previsibilidade é má conselheira. Pior: revela a miopia dos responsáveis políticos, reféns de interesses particulares e de instâncias internacionais. Tudo o que podia ter sido feito há anos (coligação de governo, aliança parlamentar, plano nacional, programa de emergência, recurso financeiro internacional, etc.) foi adiado de modo incompreensível, por causa da incompetência, da ignorância, da covardia e da cupidez dos agentes políticos. Tudo terá de ser feito em piores condições e em mais terríveis circunstâncias. Há três ou quatro décadas que a história do nosso país é uma frustre sucessão de adiamentos. O fim da guerra, a democracia, a liquidação das "conquistas" de 1975, a abertura da economia, a revisão da Constituição, a reforma da Administração Pública e da justiça: eis, por defeito, uma breve lista do que fizemos tarde e mal, quando podíamos ter feito cedo e bem.

No rescaldo das eleições presidenciais de 1996, detectavam-se facilmente os problemas políticos mais importantes para os quais uma resolução era necessária e um esforço urgente: a justiça e a corrupção. Nestes cinco anos, essas dificuldades agravaram-se. Justiça deficiente e corrupção alimentam-se reciprocamente e combinam à perfeição com um sistema de partidos e de governo que as tornou indispensáveis à sua manutenção. A Administração Pública submeteu-se ainda mais à voracidade partidária. Alguns interesses económicos, os que mais dependem do Estado e os que menos escrúpulos têm, souberam capturar as instituições públicas e a decisão governamental. Certos interesses profissionais e corporativos conseguiram também, por outras vias, fazer o Estado refém e organizar, a seu proveito, os grandes serviços públicos e sociais. Assim, o Estado perdeu a sua liberdade, a sua isenção e a sua capacidade técnica e científica. É o administrador dos interesses de algumas corporações e de alguns grupos económicos. Por esse serviço, o Estado cobra, para os partidos, uma gabela ou um tributo. A corrupção, em Portugal, não é apenas o pagamento ilegal feito para obter vantagens públicas. É um sistema, frequentemente legal, de cruzamento de interesses e favores, de benefícios e vantagens, ao qual ninguém, nos superiores órgãos de poder político, parece querer realmente colocar um travão. Fora dos órgãos de poder político, só a justiça poderia ser, em teoria, um freio e um antídoto a este sistema. Acontece que a justiça se transformou também em parte integrante deste sistema. A sua ineficácia ainda é o menor dos males. Bem pior, na verdade, são os protagonistas e os principais activistas do sistema judiciário (conselhos superiores e sindicatos) que pretendem agora, explicitamente, uma maior fatia dos proventos económicos e do poder político.

Democracia em perigo

O Governo, refém interna e externamente, administra a democracia como quem preside ao saque do Estado: na economia, satisfaz, para além das exigências do país, os interesses económicos; na sociedade, distribui, mesmo sem os recursos necessários, a protecção social. Enquanto houve crescimento económico, rendimentos e crédito externo, o Governo e os seus partidos alimentaram a democracia com aquela distribuição, compatibilizando assim as mais absurdas, socialistas e sectárias políticas sociais de saúde, educação e segurança social, com as mais predadoras e vorazes iniciativas capitalistas. Este mundo improvável acabou. Os recursos financeiros esgotaram. O crescimento económico estagnou. O crédito evaporou-se. Pela primeira vez, em trinta anos, a democracia portuguesa está em perigo, porque perdeu os seus instrumentos favoritos. A nossa democracia ligou-se perigosamente aos favores concedidos e à demagogia providencial. Sem esquecer o facto de que a confiança nas instituições políticas, públicas e judiciárias, essencial à liberdade, estiola.

O clima é mais importante do que o raio de sol ou o aguaceiro de passagem. Criar riqueza e favorecer o investimento é essencial, mas tal não se fará sem um novo enquadramento geral. Decretos e truques de cartola nada resolvem, sem a confiança dos cidadãos e dos agentes económicos. Sem certeza e estabilidade, as intenções e as oportunidades são miragens. Sem lealdade legislativa, ninguém, cidadãos ou empresas, pode planear as suas actividades. Uma boa estatística, que inebria os medíocres, será sempre contrariada pela seguinte, bem mais cruel.

Portugal parece não estar dotado das instituições políticas, dos órgãos de poder, de partidos políticos e de dirigentes à altura de resolver alguns dos problemas essenciais do presente. O processo político português está de tal modo feito que tudo contraria os esforços políticos para reordenar a vida pública e encarar de modo duradouro as necessidades de emergência. As soluções encontram-se na relação entre sociedade e responsáveis políticos, não mais em golpes de sorte partidários, em personalidades impolutas ou em arranjos de gabinete. Com perícia e responsabilidade, as soluções serão graduais e pacíficas, mas rápidas. Sem o que, bruscamente, nada de bom resultará. Impõe-se uma paz partidária, nem que seja apenas entre alguns partidos. E é necessária uma trégua social honesta e equilibrada. Sem abdicar da sua autonomia, patrões e sindicatos precisam de encontrar um ponto de entendimento sem intervenção dos partidos.

Portugal em 2016

As peripécias, os acidentes de percurso, o carácter de algumas individualidades, a futilidade de tantos comportamentos políticos e a inutilidade das declarações públicas continuarão a ilustrar o roteiro da nossa jornada futura. Mas é possível detectar, indelével, sob a espuma do efémero, o percurso principal.

Dentro de cinco ou dez anos, Portugal poderá ser governado de modo diferente. Com mais ou menos democracia. Em completa dependência do estrangeiro ou com uma relativa autonomia. Com graus de corrupção pelo menos controlados ou na submissão a uma partidocracia insaciável. Com novos partidos, novo sistema de governo e um regime diferente. O governo de maioria poderá ser a regra, mas a deriva minoritária poderá prosseguir. O regime parlamentar ou presidencial poderá substituir este arremedo que nos rege, fruto da invenção delirante de juristas medrosos e académicos sem visão da realidade. As eleições poderão ser nominais, mas a ditadura dos partidos poderá também manter-se no alheamento do soberano e dos direitos individuais. Os dilemas são estes. Inelutáveis. Mas as escolhas são nossas. Pelo menos em parte.


...AI a MATEMÁTICA ....


* Jornal Público / 24.01.2011 / na NET *

Fórmula matemática concebida por investigador da Universidade de Cardiff

Cientista estima que 24 de Janeiro é o dia mais deprimente do ano

Hoje, 4 de Janeiro, é o dia mais deprimente do ano, segundo uma fórmula matemática concebida por um cientista britânico da Universidade de Cardiff.

São bem variados os ingredientes para esta “receita” que afecta os “humores”, especialmente hoje.

O psicólogo Cliff Arnall chegou à sua conclusão em 2005 através da fórmula: 1/8C+(D-d) 3/8xTI MxNA. Segundo Arnall, “C” corresponde ao factor climático: em Janeiro, os dias são cinzentos e frios; “D” representa as dívidas adquiridas durante a época do Natal e que agora terão de ser pagas, uma vez que o pagamento dos cartões de crédito é feito no final do mês. Já o “d” em minúscula significa os custos monetários relativos ao mês de Janeiro e o “T” é o tempo que passou desde o Natal. A letra “I” representa o período desde a última tentativa falhada de abandonar um mau hábito: os bons propósitos feitos no início do ano – como as idas ao ginásio, deixar de fumar e comer melhor - começam a ficar para trás. Por fim, “M” são as motivações de cada um e “NA” a necessidade de fazer alguma coisa para mudar de vida.

Segundo Arnall, o dia mais feliz do ano é a 20 de Junho.

Ainda assim, este psicólogo disse ao jornal "The Telegraph" que encoraja as pessoas "a refutar todo o conceito de um dia mais deprimente do ano e a utilizá-lo como um momento para reflectir sobre as coisas que realmente importam nas suas vidas".

NÃO INVESTIR NA CULTURA É AGRAVAR A CRISE

Jornal Público
24.01.2011
EspaçoPúblico
José Jorge Letria
(Escritor, jornalista e presidente da Sociedade Portuguesa de Autores)

Portugal precisa de mais talento, mais criatividade e sonho e de muito menos rotundas e inaugurações "para retrato"

Erra clamorosamente quem teima em ver cultura como um mero adorno eleitoral, um capricho de elites ou um elemento de pouca relevância para o desenvolvimento do nosso país. O peso da economia da cultura nos PIB nacional e mundial ultrapassa, por exemplo, o da indústria do futebol. Por isso, a cultura exige um investimento estratégico e uma aposta programática, já que gera emprego, riqueza material e espiritual, receita fiscal, coesão nacional e prestígio internacional. Negar esta evidência é negar a própria realidade.
Nas últimas décadas, a cultura contribuiu decisivamente para a requalificação de cidades como Liverpool (a Tate Gallery, O Maritime Museum e o desenvolvimento cultural e turístico do conceito City of the Beatles) ou Bilbau (o Muaseu Guggenheim), que enfrentavam graves crises resultantes de modificações estruturais nos seus modelos de desenvolvimento. Equipamentos e circuitos culturais articulados com a oferta turística atraíram e fidelizaram públicos nacionais e estrangeiros e passaram a gerar receitas que fizeram progredir as comunidades locais e regionais.
Não basta programar eventos culturais. É preciso delinear e tornar sustentáveis verdadeiras políticas culturais que levem em conta múltiplos factores, desde logo de natureza sociológica. Infelizmente, Portugal não tem essa tradição.
A chamada "classe política", mesmo a que tem hábitos culturais, é, em regra, pouco culta, mesmo que leia livros, veja filmes e vá ao teatro e a concertos. Uma coisa é ter hábitos culturais e outra é perceber que a cultura pode e deve ser um elemento estruturante da vida de um país. E não vale a pena argumentar dizendo que existem outras necessidades que a crise torna prioritárias. Mesmo que tal perspectiva seja aceitável, isso não desculpabiliza os que negam à economia da cultura a importância  que de facto tem, designadamente para ajudar a superar crises de grande magnitude. tinha razão François Mitterrand quando, interrogado por jornalistas sobre o nome do ministro da Cultura do seu primeiro Governo, respondeu: "No meu governo todos são ministros da Cultura". Chegará o dia em que um primeiro-ministro português possa produzir semelhante afirmação?
Apoiar a cultura não é apenas conseguir, com esforço, mais umas "migalhas" no Orçamento do Estado ou mo das autarquias. É urgente que os decisores políticos de topo percebam que, sem autores e artistas, terão um país cada vez mais pobre, desestruturado, de cidadania débil e sem esperança no futuro.
O fracasso da política do betão, que marcou as décadas de oitenta e noventa do século XX em Portugal, veio demonstrar à sociedade que não existe progresso material sustentável se não for acompanhado pelo progresso moral e espiritual. Portugal precisa de um quadro legal que defenda, de facto, os direitos dos seu autores, precisa de mais orquestras e mais companhias de teatro espelhadas pelo país, precisa de mais respeito pelo seu magnífico património edificado. E preciosa, sobretudo, de meios para investir no que tem futuro, sem deixar que todos os meses emigrem para múltiplos destinos, dom regresso mais do que duvidoso, jovens artistas, autores e cientistas. Portugal precisa de mais talento, mais criatividade e mais sonho e de muito menos rotundas e de muito menos inaugurações "para retrato". Portugal precisa, afinal, de apostar naquilo que o honra e dignifica, por ser perene e enriquecedor da cidadania e da entidade colectiva.
Então e a crise, que é essencialmente económica, financeira e consequentemente social? É justamente por estarmos a vivê-la e a sofrê-la que se justificam posições como a que se assume neste texto, por que a cultura tem um reconhecido potencial que está por explorar de forma consistente e organizada. Além de ter respostas a dar no presente, ela é, essencialmente, uma garantia de futuro, principalmente se a associarmos a uma verdadeira política de defesa e promoção da nossa língua e se soubermos articular com a oferta turística e com uma dinâmica económica que envolva a exportação de bens culturais. A Presidente do Brasil, no discurso de tomada de posse, apontou o investimento na cultura e o apoio à exportação da música ede outras formas de expressão artística como uma das prioridades do seu Governo. será que o facto de termos uma língua comum não poderá contribuir para que essa mensagem chegue a Portugal e seja compreendida enquanto ainda é tempo?

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

MAS...o que é isto ....?


Das duas três, e por ordem crescente do que, em minha opinião, poderá significar o "Editorial" da revista Sábado de ontem, 20.01.2011:
- ou eu aparvalhei, ou embruteci, mas não entendo a coluna, à direita, em branco, e o destaque. muito menos (o que está a meio);
- ou estou perante alguma técnica de comunicação, da qual já não me lembro, aquando as aprendi no meu tempo de jovem estudante, daquelas que nos levam a pensar e ou a fazer o contrário da mensagem que pensamos ser a mensagem principal;
- ou estamos perante um indisfarçável apelo à abstenção (?); E, se assim for, não poderei estar senão em total desacordo.

VOTAR É UM DEVER

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

J DE JANELA

De novo Boaventura de Sousa Santos.
De "Boaventura de A a Z, in Jornal de Letras de 12 a 25.01.2011."
J DE JANELA
Oportunidade para ver e respirar o que a maior parte das pessoas não tem tempo ou possibilidade de identificar e fruir. Contrariamente ao que pode parecer, a janela confunde-se facilmente com buraco e com muro pintado.
Alienação consiste em estar num buraco ou frente a muro pintado julgando que se está à janela.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

H DE HUMANIDADE

De novo Boaventura de Sousa Santos.
De "Boaventura de A a Z, in Jornal de Letras de 12 a 25.01.2011."

H DE HUMANIDADE

A mais exaltante aspiração das mulheres e dos homens de todo o mundo infelizmente até hoje não concretizada. O que tem dominado são concepções truncadas e paradoxais de humanidade em que a humanidade de uns assenta na negação autoritária da humanidade de outros, sob o pretexto de que são irremediavelmente  inferiores e, portanto, sub-humanos, sejam eles mulheres, indígenas, negros, judeus, comunistas, islâmicos, terroristas, crianças, etc. O cardápio da negação tem variado historicamente mas a negação não.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Redescobri Boaventura de Sousa Santos

Nestes tempos conturbados vim a redescobrir um ser com cujo pensamento muito me identifico.
No passado dia 01.01.2011 foi publicada uma entrevista no Jornal I com este sociólogo e, mais recentemente, no Jornal de Letras, Artes e Ideias de 12.01.2001 (n.º 1051) aparece nova entrevista e outros trabalhos sobre o mesmo.

Para ver a primeira entrevista ir por aqui:


ver a notícia directamente no Jornal I

Quanto ao "Jornal de Letras", recomendo a sua leitura numa qualquer biblioteca à vossa mão (dado que não consegui ir buscar à NET os textos em causa).
No entanto, começo hoje, aqui, a transcrever alguns dos seus ditos na referia publicação.
Assim:
"Boaventura, de A a Z
(e começando pelo F...)
F DE FMI
Acrónimo de Fome e Miséria Internacional conhecido pelo nome de Fundo Monetário Internacional, uma organização que nasceu com nobres intenções de estabilizar as finanças internacionais mas acabou transformado num clube de credores que zela pelos seus lucros a todo o custo, impondo aos países que caem sob a sua alçada três regras de ferro: liberalização dos mercados, privatização da economia e dos serviços públicos, destruição do Estado de bem-estar dos cidadãos e sua transformação em Estado de bem-estar do capital internacional. A destruição social e a injustiça que de tal decorre não entra no imaginário dos seus sacerdotes, para quem a pobreza é pecado dos pobres. Felizmente, hoje sabe-se que os países que saíram das crises em melhores condições foram os que se insurgiram contra as receitas do FMI. Só as segue quem é pusilânime, ignorante ou cúmplice. Tudo é mais fácil para o FMI quando as três características se juntam nos mesmos governantes"
(nota: o bold é da minha autoria).

Voltarei de novo até acabar o alfabeto.....

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

WIKIPÉDIA, A BIBLIOTECA QUE TODA A GENTE USA

A Wikipédia faz dez (10) anos esta semana

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

MALANGATANA

MALANGATANA
 
                         Morreu o pintor da identidade moçambicana



ou
                                  





quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

COM A BIBLIOTECA DE PESSOA À MÃO


Jornal Público
Sexta-feira, 22.10.2010 - Ípsilon
Isabel Coutinho (isabel.coutinho@publico.pt)

Ciberescritas

Com a biblioteca de Pessoa à mão

Numa lista de tarefas a realizar  que Fernando Pessoa deve ter escrito em 1913 lê-se: "fazer catálogo da biblioteca (minha)". E foi isto que os investigadores Jerónimo Pizarro, Patrício Ferrari e antónio Cardiello fizeram.
Catalogaram a biblioteca particular de Pessoa, que terá sido construída entre o final de 1898 e o Outono de 1935, é constituída por 1142 volumes, de todos os géneros e vários idiomas, densamente anotados e manuscritos. Mais tarde foi digitalizada e desde quinta-feira está disponível online - livro a livro, página a página - no "site" da Casa Fernando Pessoa. "Entendemos que uma biblioteca desta importância devia tornar-se património da humanidade - e não apenas dos que podem deslocar-se a esta Casa onde Fernando Pessoa viveu os últimos quinze anos da sua vida", explica a directora da Casa Fernando Pessoa, Inês Pedrosa, quando s entra no "site" que pode ser acedido em português ou inglês.
E não poderia ser de outra maneira para um projecto que quer ser universal. Ainda para mais quando a maior parte dos livros que estão na biblioteca Fernando Pessoa está escrita em língua inglesa. "Parece antes a biblioteca de um autor inglês que tivesse necessidade de recorrer a traduções francesas e algum interesse especial pela literatura portuguesa. Pessoa comprava livros na Livraria Inglesa de Lisboa e encomendava livros de Inglaterra com alguma assiduidade. Muitos dos títulos portugueses que constam da sua biblioteca foram-lhe oferecidos, como revelam diversas dedicatórias" explicam os estudiosos na introdução do primeiro volume de "A Biblioteca Particular de Fernando Pessoa" (ed. D. Quixote) dedicado a este acervo.
"Senão soubéssemos quem foi o proprietário, dificilmente avinharíamos que foi um escritor português; até porque uma grande parte das notas manuscritas estão em inglês, algumas referências remetem para a África do Sul e vários livros estão assinados por Alexandre Search ou outros nomes ingleses".
Numa nota prévia que se pode ler online, Jerónimo Pizarro lembra que no poema "Un lector" Jorge Luís Borges escreveu: "Que otros se jacten de las páginas que han escrito;| a mí me enorgullecen las que he leído".
E questiona o investigador: "Que leu Pessoa? Com que propósitos? Estas são só algumas das perguntas que agora se podem começar a formular com mais assiduidade."
A biblioteca do autor do "Livro do Desassossego" está classificada por categorias temáticas e em destaque, acrescenta Inês Pedrosa, estão páginas que incluem manuscritos dom próprio Pessoa - ensaios e poemas escritos nas páginas de guarda dos livros.
Pode fazer-se pesquisa por autor, por ano ou por ordem alfabética ou por temas (psicologia, generalidades, religião, teologia, etc) e foram adicionadas interpretações sobre as suas motivações para a aquisição de determinadas obras. As secções incluem Anotações, Assinaturas, Dedicatórias, Selos (que ainda exibem as identificações das lojas em que os livros foram comercializados), Estudos, Bibliografia. E foi com o apoio da Fundação Vodafone Portugal que foi possível colocar online a totalidade das páginas de cada volume e disponibilizá-las  para consulta página a página ou fazendo o download da obra completa (em versão PDF ou JPG). Nunca os livros de Pessoa estiveram tão à nossa mão.