segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

T-shirts brancas com nódoas

Eis uma razão pela qual nunca se deve forma opinião ouvindo, ou lendo, uma única só parte sobre um determinado assunto ("issue" como dizem os ingleses).

(in revista NotíciasMagazine, Jornal de Notícias de 06.02.2011)

EU NÃO ME ABSTENHO ....

"...Para consolidar a democracia e fomentar desde cedo a participação, pais e professores têm de salientar a importância dos valores essenciais: o respeito pela vida e pela opinião dos outros, a verdade, a honestidade e o cuidado com as pessoas perto de nós.
É na defesa do sentimento do outro e na crença de que temos de escolher os melhores para nos representarem que reside, desde a infância e em democracia, o combate à abstenção."
 (Daniel Sampaio, em "porque sim", revista Pública de 6.02.2011)


DESCARAMENTO DESPUDORADO

(crónica no Jornal Público de 18.02.2011, "Espaçopúblico")



TEMOS MEMÓRIA CURTA, ... não temos?

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

PARVA QUE SOU

PARVA QUE SOU
Por Deolinda

Sou da geração sem
remuneração.
E não me incomoda esta
condição.
Que parva que eu sou.

Porque isto está mal e vai
continuar.
Já é uma sorte eu poder
estagiar.
Que parva que eu sou.

E fico a pensar:
Que mundo tão parvo,
Onde para ser escravo
é preciso estudar.

Sou da geração "casinha dos
pais".
Se já tenho tudo, p'ra quê
querer mais?
Que parva que eu sou.

Filhos, maridos, estou
sempre a adiar,
E ainda me falta o carro
pagar.
Que parva que eu sou.

E fico a pensar:
Que mundo tão parvo,
Onde para ser escravo
É preciso estudar.

Sou da geração "vou queixar-me
para quê?"
Há alguém bem pior do que
eu na TV.

Sou da geração "eu já não
posso mais!",
E esta situação dura há
tempo de mais,
E parva eu não sou!

E fico a pensar:
Que mundo tão parvo,
Onde para ser escravo
É preciso estudar.
(fim)

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

PLANETA DOS MACACOS

 ... e esta hem!!!.. (como diria o saudoso...)

Jornal Público de 01.02.2011
P2 * O bisturi * Jorge Marmelo

Um mito grego antigo narrava, séculos antes de Noé ter construído uma arca, como Zeus fez desabar sobre o mundo um dilúvio destinado a castigar os homens pelas sua inclinações ímpias. Da chuvada só se salvaram Deucalião, o mais justo dos homens, e Pirra, a mais virtuosa das mulheres - a bordo, pasme-se, de uma caixa de madeira que conseguiu alcançar o cume do monte Parnaso, o único sítio da Terra que escapou à inundação.
A história, porém, não serve apenas para demonstrar a falta de criatividade das religiões posteriores, uma vez que fornece também uma explicação razoável para o carácter bruto dos homens do porvir. Finda a tempestade, Deucalião e Pirra foram, sozinhos no mundo, caminhando e lançando pedras para trás das costas. Das pedras que ele lançava sobre a terra húmida nasciam varões, e fêmeas dos calhaus que atirava ela. De acordo com esta interpretação do mito, somos todos calhaus com olhos - e pouco mais.
Simpatizo com a mitologia grega, mas tendo a emocionar-me mais com a histórias como a da coelha grávida que, a caminho do Porto Santo, em 1419, pariu e, como uma Eva felpuda e de orelhas cumpridas, deu origem a todos os coelhos que existem na ilha. O P2 contava-o ontem, mas eu tinha ouvido a fantástica narração na semana passada, pela viva voz do biólogo Nuno Ferrand de Almeida. e arrepiei-me com essa demonstração prática da evolução das espécies, como se estivesse diante de uma revelação. Infelizmente, sendo também pouco mais do que um calhau com olhos, ainda estou a tentar perceber aquilo que me foi revelado.
Embora filho de Deucalião, prefiro, pois, a versão segundo a qual o Homem e os outros animais resultam da evolução natural das espécies, tal como Charles Darwin a desvendou; que somos todos netos de um macaco que se pôs em pé, aprendeu a atravessar o polegar diante da palma da mão e entendeu, depois, que a cabeça podia servir para alguma coisa além da criação recreativa de piolhos. Encantou-me, por isso, a história de Ambam, uma gorila de dorso prateado do zoológico de Kent, em Inglaterra que caminha em pé ("como um homem"). Vêem-se as imagens disponíveis na Internet e parece mesmo que só lhe falta uma cartola no alto do cocuruto e um charuto na mão para poder ser confundido com um Homo sapiens (ou com um barão da indústria).
Parece que o pai de Ambam também é capaz de andar em pé, o que talvez signifique, no grande concerto da evolução das espécies, que estes gorilas se encontram num momento em que podem começar a parecer-se com os humanos comuns. Calhando, a ficção cinematográfica de o Planeta do Macacos não está muito longe de se concretizar e os nossos tetranetos poderão conviver, um dia, com símios inteligentes. Podemos, assim, esperar que esses futuros seres cheguem a ser tão bonitos e sensíveis como Ari protagonizada por Helen Bonham Carter, e tão pacíficos e fleumáticos como Ambam, o gorila de Kent.
Com sorte, os crioulos que resultem dos cruzamentos deles com os humanos ainda nos podem salvar das macacadas deste mundo.
(fim)
NOTA: Vejam o Ambam, neste link:
             http://www.youtube.com/watch?v=YXHQNKABKs8
             (mas no YouTube há mais...)

VENDE, MAS NÃO É SÉRIO

..para bom entendedor, meia palavra basta. ...

Jornal DESTAK de 27.01.2011
Editorial * Isabel Stilwell

Sinceramente, fiquei enjoada com o vídeo da entrevista  do Carlos Silvino. Não consegui sequer vê-la até ao fim: os tiques, os gestos perturbados, a teoria da conspiração do copo de água drogado, da medicação que leva a mentir, com um efeito tão poderoso que perdura três anos e obriga a vítima a assumir-se como gay e pedófilo, e até, imagine-se, a pedir desculpas em tribunal, tudo é confrangedor.
Como é confrangedor perceber que há quem use e abuse sem escrúpulos, do depoimento de alguém que é visivelmente perturbado, que a opinião pública e o tribunal "julgaram"  com alguma condescendência exactamente por isso. E que ninguém pareça perceber o que se passa, quando o entrevistador tem uma agenda pública e assumida de lutar pela inocência de Carlos Cruz, e não propriamente de investigar a verdade, essa sim, a missão de uma jornalista e o propósito de uma entrevista jornalística.
É claro que vende, é claro que é uma enorme tentação publicar e divulgar esta suposta pedrada no charco, que aparentemente põe em causa todo um julgamento. Mas não quer dizer que seja sério. Nem para ser levada a sério.
Acredito que toda a gente tem direito a lutar pela sua inocência, pelos meios legais, mas custa-me compreender que pessoas condenadas por um tribunal continuem a agir como se não o tivessem sido, e, com o "pretexto" dos recursos, continuem a dar grandes entrevistas e a dizer o que lhes vem à cabeça, podendo obviamente ser facilmente manipuladas. Condenado a dezoito anos de prisão, o que tem Carlos Silvino a perder com estes números de circo? Mas há quem tenha muito a ganhar de cada vez que a confusão se instala. e nem sequer custa a perceber quem são.
(fim)
NOTA: O bold é meu.

...AINDA AS ELEIÇÕES PARA PRESIDENTE DA REPÚBLICA...

Porque é preciso não esquecer....!

Jornal Público de 25.01.2011
Espaçopúblico * José Vítor Malheiros

Da alegria de ter Aníbal Cavaco Silva como Presidente da República Portuguesa
A grande festa da democracia

Agora, que já tudo acabou, é tempo de fazer o balanço. E é preciso sublinhar que o balanço não pode deixar de ser considerado positivo.
Como já é habitual, esta eleição, muito personalizada, contou com um escol de candidatos que, apesar das naturais diferenças ideológicas, de estilo e de percurso, possuíam em comum inegável leque de competências políticas e éticas. Todos ofereciam garantias de exercício de uma presidência empenhada no reforço da democracia e na redução das desigualdades, no desenvolvimento económico e no combate à corrupção. Foi reconfortante, mesmo antes das eleições, poder ter esta certeza de que, ganhasse quem ganhasse, o próximo mandato presidencial seria exercido de forma sensata e independente, seria um exemplo de um magistério equilibrado, de uma relação de lealdade e exigência com o governo e os partidos, de uma estimulante intermediação com a sociedade civil e de uma irrepreensível probidade republicana. mais do que isso, foi tranquilizador constatar que o candidato favorito era alvo, para além das normais críticas do combate político, de um indisfarçável respeito por parte dos seus adversários. Respeito pelo político, mas também pela pessoa. O seu brilhantismo intelectual, a sua lealdade na arena política, a sua visão estratégica, a sua integridade como cidadão foram referências sempre presentes ao longo da campanha e forneceram a todos os eleitores uma sólida confiança no futuro do país, apesar do quadro recessivo e da dificuldades que quase todos encaram.
A campanha constituiu um exemplo de envolvimento cívico e, se não permitiu um esclarecimento perfeito dos eleitores, pelo menos proporcionou interessantes debates sobre a actual situação política e as opções que se abrem aos portugueses. Particularmente importante foi a forma como cada candidato pôde explicar, sem demagogias nem azedume, de que forma iria utilizar a reduzida panóplia de instrumentos políticos do Presidente da República em prol do bem-estar dos portugueses. Surgiram neste debate pérolas de sabedoria e imaginação que são uma inspiração para todos os cidadãos e todos os candidatos.
Foi digna de nota a frontalidade e a disponibilidade com que o actual Presidente e candidato respondeu a todas as questões que surgiram na campanha, muitas das quais objectivamente incómodas e desagradáveis, a transparência com que facilitou toda a informação e satisfez todas as perguntas e, de uma forma geral, o seu empenho em não deixar qualquer dúvida nos espíritos dos eleitores. particularmente notável foi a sua declaração de que "ninguém está acima da lei: nem os candidatos, nem o Presidente" e o seu fair-play ao afirmar que "as campanhas servem precisamente para questionar os candidatos e para esclarecer as dúvidas que possam surgir no espírito dos cidadãos". Notável também a sua réplica "A imprensa? A imprensa faz o seu papel, que é fundamental numa democracia".
A eleição contou, como se esperava, com uma afluência recorde à urnas, que já se tornou habitual na grande festa da democracia.
Raras vezes se terá ouvido um discurso de vitória tão elegante com aquele que Cavaco Silva pronunciou na noite da eleições. O Presidente-em-exercício-e-Presidente-eleito minimizou qualquer acrimónia que pudesse ter emergido durante o confronto eleitoral, cumprimentou os seus adversários e afirmou-se como garante da unidade nacional, acima da trica politiqueira e empenhado numa profícua colaboração institucional entre todos os protagonistas políticos. Soube-se depois que o Presidente eleito conta reunir todos os candidatos num jantar, que oferecerá uma semana depois da sua tomada de posse. O gesto é inédito, mas não surpreende. Cavaco Silva é, acima de tudo, um gentleman.
Em tudo isto, há apenas um senão: o facto de esta ser a única frase verdadeira de todo este texto.
(fim)
NOTAs:
o bold é meu;
E no fim o que fica: a certeza que sonhar é bom, que a imaginação só faz bem à crise e ao mundo e que acreditar e defender certas utopias não faz mal a ninguém, antes pelo contrário....!